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24 abril 2022

Naked and Violence

 Clássico filme mondo


  Nas décadas entre 1960 e 1980 existia um gênero que era febre na Europa, principalmente na Itália e na América mais concentrado no Estados Unidos que eram os filmes ''mondo'', os pseudo documentários que surgiam abundante por aí. Mas para contextualizar, vamos falar um pouco desse gênero e como surgiu. 


  Em 1959 foi lançado na Itália ''Europe di Notte'', do diretor  Alessandro Blasetti, considerado o pai do cinema italiano pois reviveu a indústria do cinema por lá no final da decada de 20 que estava em profunda decadência. O filme podemos dizer que é uma espécie de programa do Amaury Jr. de longa duração, ou para quem é daqui, do Xicão Tofani. Foram visitados a noite de importantes cidades europeias como Madrid, Viena e Paris, mostrando discotecas, apresentações musicais, de balé e mais. 


  Lançado nos cinemas, alcançou sucesso comercial. Depois passou na TV, sem no final da noite em emissoras locais. Com o retorno financeiro o que pensaram outros diretores? Dinheiro fácil, surge então um novo gênero, o ''mondo''. O próximo que surgiu foi ''Il Mondo di Notte'' de Luigi Vanzi. É praticamente a mesma coisa que ''Europe di Notte''. A novidade seria o nome ''mondo'' que seria usado e popularizado por diversos diretores. O filme de Vanzi chegou a ser lançado em DVD, já o de Blasetti não.


 Os diretores Gualtiero Jacopetti, Paolo Cavara e Franco Prosperi criam na Itália a mais famosa serie mondo, o ''Mondo Cane'' que numa tradução literal é ''Mundo Cão''. Narrado por Stefano Sibaldi, um dos maiores atores e dubladores italianos da história, ''Mondo Cane'' foi sucesso internacional, sua canção original composta pelo lendário Riz Ortolani e Nino Oliviero chegou a venceu o Grammy e concorreu a um Oscar. Concorreu também ao Palma de Ouro do Festival de Cannes mas perdeu para o brasileiro ''O Pagador de Promessas''.


  Mas o que ''Mundo Cane'' inovou? Bem, o filme é um ''diário de viagem'' mostrando culturas exóticas (ou não) do mundo todo. Existem muitas cenas comuns mas também boa parte estão lá para chocar o espectador. Existem muitas cenas reais mas também muitas encenadas. Alguns exemplos do que se tem em ''Mundo Cane'':

- Pescadores malaios se colocam ouriços do mar venenoso na boca de um tubarão para morrer lentamente, numa vingança devido a morte de um garoto de 12 anos pelo mesmo. Segundo a narração, o tubarão vai sofrer uma semana antes de morrer.

- Animais exóticos em Hong Kong sendo vendido como comida.

- Em Macau, mortos são maquiados para o funeral e as pessoas queimam dinheiro para que os mortos levem.

- Soldados do Nepal decapitam búfalos em uma competição ritualística de força.


  A serie original consiste ao todo 5 filmes, além de ''Mundo Cane'' são:

La Donna nel Mondo (1963)

Mundo Cane 2 (1963)

Africa Addio (1966)

Addio Zio Tom (1971)


  Outros filmes que tem ''mondo'' no nome não são oficiais e sim querem pegar o gancho no nome para faturar. Por exemplo, ''Mondo Cane Oggi'' (Mondo Cane 3) e ''Mondo Cane 2000, l'Incredibile'' (Mondo Cane 4) de Stelvio Massi (conhecido como Max Steele) não confundam como oficiais. Existe também um tal de ''Mondo Cane teil V (Mondo Cane 5)'' do alemão Uwe Schier e não são... sabem o que... Bem, eu vi numa fonte que esse alemão comprou os direitos da franquia mondo original e também do ''Faces da Morte''.  Ele dirigiu um ''Mondo Cane 4'' de 1992 e o 5 de 1993, então esses seriam parte da franquia? Não consegui confirmar então... Já ''Faces da Morte 5 e 6'', esses foram uma compilação dos 4 primeiros filmes, editados e lançados em países onde os originais foram proibidos.


  Continuando,  ''Mondo'' teve alguns ''clones'' que fizeram sucesso, um deles é o ''Mundo Topless'' de Russ Meyer. Aqui basicamente é um ''mondo'' para mostrar muita mulher pelada, a maioria atrizes que já trabalharam com Russ. Por curiosidade, é o primeiro filme colorido do diretor.


  Em 1978 se cria mais um sub gênero dentro do sub gênero que é os ''death films'' ou ''shockumentary'', onde o original é o clássico cult (e das locadoras) ''Faces da Morte (Faces of Death)'' de John Alan Schwartz, com um pseudônimo de Conan Le Cilaire . Para quem não conhece, aqui se mostra cenas explicitas de humanos e animais sendo mortos, cenas reais e encenadas. É banido em mais de 40 países, mesmo assim foi um sucesso financeiro faturando mais de 35 milhões de dólares sendo que seu orçamento foi de apenas 450 mil.


  Bem, depois de contar um pouco da história dos ''mondo'', vamos finalmente falar de NAKED AND VIOLENCE que foi dirigido por Sergio Martino, sendo apenas seu segundo filme. O primeiro foi um ''mondo'' sobre prostitutas da alguns países europeus, chamado ''Mille peccati... nessuna virtu''.


  NAKED AND VIOLENCE começa em Cape Kennedy, EUA onde a NASA prepara o envio de astronautas a lua e faz uma critica ao consumo dos americanos em torno do programa espacial, onde se vendem todo tipo de produtos relacionados, como brinquedos, lanches, brincos e até parodias pornôs! A cidade se tornou um parque para as pessoas entediadas e interessadas em saciar suas emoções.



  A premissa do filme é uma critica ao país mais rico do mundo e que também é cheio de pessoas pobres, doentes, com fome de poder, fome de riqueza e que não é somente um lugar dos sonhos e também um lugar de pesadelos. Esse não vai ser o primeiro nem o ultimo filme a fazer essa critica, pode ser até que seja algo bem atual, mesmo tendo sido lançado em 1970. Mas a ideia não apenas mostrar uma critica social, mas criticar e chocar, se isso é bom ou ruim, cabe ao espectador decidir.


  Depois, temos um lado pouco conhecido de Nova Iorque, um bairro chamado Bowery, onde alcoólatras, vagabundos, mendigos compõe uma boa parte do lugar. Bêbados que dormem na rua e os pedestres passando normalmente por cima deles. No mesmo bairro, temos a visita de um lar para idosos esquecidos, onde um deles está feliz pois será cobaia para tratamento experimental de câncer, assim poderá dormir numa cama mais confortável e ter lençóis limpos.



  Algo que os mondos gostam de fazer é chocar o publico e depois cortar para cenas mais sensuais com mulheres bonitas, em outras peladas mas que tentam encaixar na proposta do filme, até porque o mesmo tem ''naked'' no nome. NAKED AND VIOLENCE mostra um grupo de jovens ricos que nos finais de semana se embebedam, colocam mascaras e ficam pelados se acariciando. Ou em outra, mulheres de Miami correndo pela praia. A mais curiosa é em um cassino, um local onde os homens recebem 3 bolas para acertar um alvo em camas mecânicas. Caso acertem, ganham um strip tease de uma bela mulher que ali estavam cobertas.



  Mas infelizmente aqui temos violência gráfica pesada, lembrem, tem ''naked'' mas também ''violence'' no nome. Temos um pacifista que tem os 3 dedos do meio amputados para não precisar segurar numa arma. Bem, aqui a cena é claramente encenada (e totalmente gráfica), e outra, mesmo o maior pacifista do mundo, eu duvido que ele se mutilaria assim. Valeu a intenção. De qualquer maneira isso não é nada perto de outra, que mostra homens amarrando coelhos vivos pelos pés e praticam tiro ao alvo. Eu quero acreditar que essa cena também é encenada, só que o resultado de como ficaram os pobres animais é de um realismo chocante. Se NAKED AND VIOLENCE quer chocar, somente com essa cena é suficiente para isso. O que é real (eu acho), é numa cena onde uma garota passa por um ritual e uma galinha tem sua cabeça cortada e o sangue espalhada pelo seu corpo nu. Deixando claro, acredito que a morte do animal seja real, mas a cena do ritual encenada.



  De qualquer maneira, a violência gráfica não chega nem perto do que testemunhamos num ''Faces da Morte'' ou ''Traços da Morte'', mesmo assim, NAKED AND VIOLENCE não deve ser visto para quem é mais sensível. Aviso dado.


Trailer (não tem)


Naked and Violence

Itália 

1970 - 91 minutos


Direção:

Sergio Martino


Elenco:

Vários


Download (versão legendada)

18 abril 2022

Tortura Selvagem

 Afonso Brazza em alto nível!


  É o primeiro filme de Afonso Brazza por aqui, então vamos falar um pouco dele para quem não conhece, criado em Gama/DF filho de pais piauienses que migraram para lá para tentar uma vida melhor, com 12 anos Brazza se muda para São Paulo capital, isso em 1969. Por lá conheceu o lendário José Mojica Marins, o Zé do Caixão que claro, o apresentou ao mundo do cinema e foi paixão a primeira vista. Na Boca do Lixo, Brazza foi aprendendo cada vez mais sobre produção de filmes pois trabalhou na equipe técnica de alguns filmes e até teve participações em filmes como ''A Filha do Padre'' e ''Traídas pelo Desejo''.


  Ao retornar a Gama, ele se tornou bombeiro mas sempre com o desejo de produzir filmes. Casou-se a com a atriz de pornochanchada Claudete Joubert e ambos estiveram em ''Inferno no Gama'' de 1993, dirigido claro, por Afonso Brazza.

Brazza, também conhecido como Rambo do Cerrado

  

  Brazza faleceu em 2003 devido a um câncer no esôfago com apenas 48 anos. O que lhes trago é o ultimo filme do ator, diretor e bombeiro, ''Tortura Selvagem'' que custou 240 mil reais, algo muito acima do que estava acostumado pois teve ajuda do governo do DF para a produção. Para o ''padrão'' Brazza, o filme se saiu muito bem, estando no cinema por 4 semanas em Brasília. No geral seus filmes se tornaram cult e trash, devido seus inúmeros defeitos


  O filme conta com algumas participações ilustres como Liliane Roriz, filha do governador na época, do deputado federal e apresentador de TV Ricardo Noronha e dos roqueiros Rodolfo e Digão, da banda brasiliense Raimundos. Também contou com Zé do Caixão, que foi o único que ganhou cachê por um dia de filmagem.


  Ao todo dirigiu 6 filmes, (algumas fontes podem dizer que são mais):

1991 - Santhion nunca morre

1993 - Inferno no Gama

1995 - Gringo não perdoa, mata

1998 - No eixo da morte

2001 - Tortura selvagem - A grade

2006 - Fuga sem destino


  Sendo que o último, ''Fuga sem Destino'' estava em filmagens quando Brazza veio a falecer. No leito do hospital, pediu ao seu amigo Pedro Lacerda para terminá-lo e assim o fez, lançando-o em 2006 no Festival de Brasília. Em 2015 no 48º Festival de Brasília, foi homenageado no curta ''Afonso é uma Brazza'' de Naji Sidki e James Gama, que ganhou o premio de melhor curta pelo júri popular. Seu amigo Lacerda tem um sonho de lançar algumas de suas obras em DVD mas ainda infelizmente não teve sucesso.

  Mas vamos voltar ao TORTURA SELVAGEM, filme muito divertido devido sua qualidade técnica, de câmera, fotografia e claro, atuações. Filmado em Brasília, o filme conta com assassinatos, intrigas, traições e até com lições de moral. O enredo é bem simples, Maicon (Brazza) é um catador de papel que acaba tendo sua vida revirada do avesso pois é acusado injustamente de trafico de drogas. Um grupo de traficantes joga um pacote de pó dentro do carrinho dele quando estão fugindo da policia, para piorar ainda os FDP matam toda sua família. Maicon então se torna um matador e parte para a vingança.



  O filme tem pouquíssimos diálogos, quando tem são falas simples sem nada para acrescentar a história, como por exemplo: MATEM TODOS! Matem todos eles seus bando de cornos! - Mas nem precisa de história mesmo, aqui temos tiro, porrada e bomba, não nessa ordem e nem com tudo isso. Para dar aquele ar de super produção, com o Brazza alugou até um helicóptero para aparecer no filme e também uma lancha. Outra parte do dinheiro deve ter sido gasto com molho de tomate, digo sangue falso que tem aos montes. E se tem sangue tem morte, se tem morte, tem ótimos atores se fingindo de morte que se mexem mais que quando estão vivos!!!! Alias, as mortes são as melhores partes do filme!



  Por fim não podemos se esquecer do Zé do Caixão, caracterizado com seu famoso personagem que aqui é uma espécie de mago, protetor e conselheiro que fica perambulando e observando Maicon. É uma espécie de Raiden nos filmes do Mortal Kombat.



  A trilha sonoro ficou a cargo é claro, dos Raimundos. TORTURA SELVAGEM tem quase 70 minutos de pura diversão, altamente recomendado para os amantes de filmes trash!


Tortura Selvagem

Brasil

2001 - 68 minutos


Direção:

Afonso Brazza


Elenco:

Afonso Brazza (Maicon)

Claudete Joubert (Lara)

Liliane Roriz (Olivia)

Rodolfo (Bandido)

Digão (Bandido)


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