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31 janeiro 2018

The Boxer's Omen

Mais uma loucura asiática !


RESENHA ESCRITA PELO AMIGO ALLAN DO BLOG TRASHINEMA !


O filme inicia com uma luta de boxe entre um atleta da Tailândia, Ba Bo (Bolo Yeung) e um de Hong Kong. O de Hong Kong está sendo massacrado, mas consegue acertar um chute no oponente que lhe rasga a cara - provavelmente por lutar com unhas compridas - o que lhe dá a vitória. Ba Bo, que não gosta de jogar limpo, não aceita e vai para cima do oponente e quebra seu pescoço, causando um tumulto generalizado no ringue.

Chan Hung, o irmão do lutador que se encontra hospitalizado, tem que se encontrar com uma gangue, que na verdade era uma emboscada. Eles haviam matado seu tio e tentam o mesmo com ele. Até que aparece uma figura misteriosa e com poderes de um buda misturado com um chafariz que o salva e pede que ele o siga, coisa que não faz. Esta cena parece apenas servir para apresentar o poderoso sacerdote budista, já que não se fala mais nos agressores ou no tio morto.


O estranho sujeito retorna à casa de Chan Hung na forma da silhueta de um templo luminoso, depois tomando sua forma humana e logo desaparece. Chan visita seu irmão no hospital, que está bem ferido e pede vingança. O irmão logo vai a um evento na Tailândia onde Ba Bo está recebendo um cinto de campeão e intervém, dizendo que ele não merece, tirando dele e querendo briga.

Na volta, ele vê novamente a forma luminosa no topo de um templo budista e lá é recebido. Explicam-lhe sobre seu sacerdote, que salvou um mestre de magia negra. Para isto ele lhe grudou uma espécie de espelhinho na sua testa que emitia círculos de luz multicoloridos. Isto fez sua pele parecer tomada por massa de pão e em seguida cresceram bolhas em sua pele até se transformar em uma velha desdentada - e aparentemente morta - de onde sai um morcego de sua boca. Não é algo que eu chamaria de salvação...


O morcego é morto apunhalado pelo sacerdote, o que desperta um sujeito com máscara de morcego que come um rato vivo e cospe seu sangue nos ossos do morcego, fazendo-o reviver.
O esqueleto do morcego sai andando serelepe em direção à saída do templo até ser esmigalhado pelo sacerdote budista. O homem-morcego agora toca sua flauta e encanta cobras para retirar seu veneno, que o introduz no cérebro de um crânio semidecomposto. Dá uma misturadinha na receita e alimenta aranhas, que parecem chupar o líquido de canudinho. Vale destacar que as aranhas estão mais para fofinhas do que para assustadoras. Elas têm o corpo gordo e patas curtinhas e não convencem nem um pouco, mas vamos acreditar que são aranhas perigosas.


Nada parece fazer muito sentido para nossas mentes ocidentais e as sequencias bizarras continuam. O homem-morcego, munido de suas aranhas contaminadas, vai ao templo envenenar o sacerdote com elas. Coisa que ele faz da forma mais prática possível: sobe pelas pareces e no teto e solta as aranhas em cima do sacerdote que é picado nos olhos.

Antes de morrer, o sacerdote que estava prestes a se tornar imortal, diz que alguém chamado Chan Hung - bem específico ele - apareceria em três meses ao templo, e lá estava ele, ouvindo toda esta história. Eles o mostram o corpo do sacerdote, que estava dentro de um vaso de cerâmica e ainda estava em bom estado. O corpo começa a falar e explica que eles foram gêmeos em vidas passadas. Quando seu corpo se decompor, será também a hora de sua morte. Chan Hung não dá muita atenção ao morto falante e vai para casa.

À noite ele começa a passar mal - bem mal, por sinal - quando vomita uma enguia, ainda viva. Convencido de sua missão, ele volta ao tempo e descobre que precisa se tornar um monge para combater o mal, mas sua maior preocupação é em raspar o cabelo.


O treinamento vai desde meditar em um rio cheio de sanguessugas, à receber as palavras de um vaso para o seu corpo - esta cena é difícil de ser explicada, precisa ser vista, mas seu corpo parece uma tela onde são projetadas algumas palavras que estavam inscritas no grande vaso onde ele estava.

Após o treinamento ele enfrenta o homem-morcego, que invoca morcegos de dentro de crânios de jacarés com o sacrifício de galinhas. Os morcegos atacam o agora monge, mas com seu novo poder ele cerca-se por um vaso que queima os morcegos e novamente vemos as palavras sendo projetadas em seu corpo.


Os crânios de jacarés ganham vida e vão rastejando e atacam o monge que detém suas mordidas. O satânico lhe responde com o dedo médio e arremessa um vaso que faz o monge dar voltas para trás quando atingido, sentindo agora este golpe. Para se tornar poderoso, o satânico homem-morcego come os restos de um animal e vomita-os, e come o vômito, e o vomita novamente, e o come novamente... Em seguida ele dá vida a uma cabeça verde que parece alienígena com uma tripa pendurada que fica balançando-se no ar. Mas isso ainda é pouco para o nosso poderoso monge, que facilmente explode a cabeça com seu poder.

O malvado não desiste e tem mais truques: ele enfia-se pontas afiadas em seu pescoço, que faz sua cabeça desgrudar do corpo com inúmeras e pequenas tripas abaixo dela. A cabeça levita e agarra o rosto do monge, que ainda consegue se livrar e com a chegada do sol - ou da lua - a cabeça se decompõe rapidamente.

Assim, ele quebrou o encanto e salva a si mesmo e a imortalidade do sacerdote. Com isso ele já pode voltar para casa e colocar um fim à sua abstinência sexual depois de tantos treinamentos e batalhas exaustivas, afinal ninguém é de ferro... Mas mal sabia ele que este ato iria lhe colocar novamente em problemas.

Três sujeitos, em um local decorado com cabeças decepadas e uma estátua assustadora com luz esverdeada, abrem um grande jacaré e dentro dele colocam um corpo. Não se preocupem com os animais, todos parecem bem falsos.

Enquanto este pessoal da magia negra faz suas artimanhas, Chan Hung vai para o ringue para lutar com Ba Bo. Ele não parece ter aprendido a lutar com os budistas e, assim como o irmão, vai apanhando. Depois de um tempo, o trio remove o corpo do jacaré e fazem um ritual comendo nojeiras e vomitando e assim sucessivamente. A massaroca resultante serve para alimentar o corpo de uma mulher, que ganha vida e faz uma espécie de vodu com a imagem do sacerdote, o que parece também atingir Chan Hung, que perde a visão durante a luta e apanha feio. Mas ele recusa-se a desistir e em uma reação de sorte, consegue uma vitória, não muito convincente.


Chan Hung e seu mestre extraem um poderoso líquido de um ganoderma (um cogumelão). Os budistas descobrem que ele quebrou a regra da abstinência, o que tirou a imortalidade novamente do sacerdote - imortalidade esta que é bem sensível, pelo jeito - e logo o matará também. Só há apenas uma forma de viver. Para isto ele vai à Katmandu para pegar as cinzas de buda. Ele se faz um profundo corte e aplica o líquido do cogumelo e em seguida costura o corte, fazendo uma luz transitar pelo seu corpo. Será que não dava pra usar uma seringa?

Ele vai ao templo, mas o mesmo é protegido por forças sobrenaturais. Estatuas ganham vida e soltam raios. Não bastasse isto, aparece a mulher do jacaré e invoca este animal, que ataca  o nosso monge transante. Ela ainda o domina com mãozinhas esqueléticas e rugas que cobrem o seu corpo. Com os seus truques budistas, um sacerdote aparece e arranca toda pele da mulher, que caga um líquido azul e dá a luz aos três sujeitos que a invocaram, em seguida ela é tragada por vermes.
Um deles abre sua barriga e os outros amputam suas mãos e pingam seu sangue sobre o corte. Da união de seus poderes surgem criaturas que atiram raios. Nada disso é suficiente para vencer as forças budistas. Assim Chan Hung, de alguma forma atinge seu objetivo e em um final súbito, salva sua vida e a imortalidade do sacerdote. FIM!


Ufa, chegamos ao fim deste filme, digamos, um tanto quanto exótico, que só poderia ser concebido por uma mente insana asiática. Apesar de parecer não fazer muito sentido - e se você leu este texto sem ter visto o filme, fará ainda mesmo - o filme é bem interessante, mesmo com pouco gore, tem bastante nojeiras e bizarrices sem fim. Além de muitos efeitos coloridos, luminosos que dão uma aura oitentista e psicodélica à produção.

O filme foi produzido pela famosa Shaw Brothers, especialista em filmes de kung fu, mas que também produziu diversos filmes de horror, como Hex, Hex vs. Wichcraft, Ghost Eyes, The Killer Snakes, Bewitched, Corpse Mania, para citar apenas alguns, que também são do diretor de The Boxers Omen, Chih-Hung Kuei. Bewitched, de nome original Gu, é o filme cujo The Boxers Omen é sequência, e também parece bastante interessante. Ele também dirigiu o WIP Bamboo House of Dolls, a comédia erótica de kung fu, Virgins of The Seven Seas e o bruexploitation Iron Dragon Strikes Back. Infelizemente depois de 1984 ele mudou-se para os Estados Unidos e saiu da indústria do cinema para abrir uma pizzaria. Ele faleceu em 1999, vítima de câncer de fígado. 

A própria Shaw Brothers também teve outras produções relacionadas à magia negra, como Black Magic e Black Magic 2. O próprio The Boxer's Omen, cujo título original é Mo, saiu com o título na Indonésia e nos Estados Unidos de Black Magic 4, já em Moçambique, aproveitaram outra franquia não oficial e o chamaram de Zombi 10!


The Boxer's Omen também tem algumas características, como a magia negra, cabeças voadoras e duelo de magos que lembram o filme indonésio Mystics In Bali e Witch With The Flying Head, Seeding of a Ghost - este também com os atores Kar-Man Wai e Philip Ko - , The Eternal Evil of Asia, entre vários outros deste que foi praticamente um subgênero no cinema asiático envolvendo o rico e criativo folclore da China, Hong Kong e parte do sudeste asiático.

Pelo que pesquisei, The Boxers Omen não chega a ser considerado um filme Cat. III, uma classificação de filmes somente para adultos, devido ao seu conteúdo relacionado ao sexo e violência, embora deva se aproximar. Mas, voltarei em mais detalhes ao assunto na postagem de um filme mais apropriado. Neste caso a insanidade e bizarrice são os pontos mais explorados, sem tanto espaço para violência gráfica ou nudez, mas que também estão presentes.

Se a cultura oriental já nos é estranha ao natural, imagine isto potencializado pelo poder do cinema trash, repleto de cores multicoloridas, de auto-mutilações, de rituais nojentos, de mortos que voltam à vida de formas mais bizarras e impensáveis, e de vários momentos grotescos e surreais. Cheguei a ver comentários comparando com filmes de Alejandro Jodorowski e José Mojica, e coisas como a parte mística e surreal e imagens do inferno psicodélico podem lembrar estes diretores, mas somente quanto à parte visual. Enfim, dito tudo isto, recomendo muito este filme.

Postagem original:

Postado originalmente pelo amigo Tatuador:

Trailer (não tem)

The Boxer's Omen
Hong Kong
1983 - 103 minutos

Direção:
Chih-Hung Kuei

Elenco:
Phillip Ko
Shao-Yen Lin
Lung Wei Wang
Somjai Boomsong
Hak Shun Leung
Edmund P. Meneses
e...
Bolo Yeung