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25 maio 2025

Benny's Video

Obra prima perturbadora


BENNY'S VIDEO segue a vida de Benny (Arno Frisch), um adolescente de 14 anos que vive em um lar que não lhe falta nada, no sentido financeiro, mas é emocionalmente distante, depressivo. Ele passa a maior parte do tempo em seu quarto, assistindo e gravando vídeos, desenvolvendo uma obsessão por imagens que retratam a violência. A trama se intensifica quando Benny convida uma garota chamada Madchen (Ingrid Stassner), para sua casa. Após uma série de interações estranhas e desconfortáveis, ele comete um ato de violência chocante: a assassina com um tiro. O filme então explora as consequências desse ato e a reação apática de sua família e da sociedade. Antes de continuar, para quem não conhece o FILMELIXO, de vez em quando eu coloco algum filme bom, longe de ser filme trash e que não são tão conhecidos. Segue o jogo...

Benny é um protagonista bem complexo. Ele representa um jovem que é simultaneamente vítima e criminoso. Sua obsessão por vídeos violentos sugere uma desconexão da realidade e uma falta de empatia. Típico psicopata. O ato brutal que comete não é apenas um reflexo de sua personalidade perturbada, mas também um resultado do ambiente em que foi criado. Sua relação com a tecnologia é central para sua identidade; ele vê o mundo através da lente da câmera, o que o distancia da experiência humana real. Mesmo jovem é bem esperto e inteligente, mas a usando para cometer suas atrocidades.


Já a garota, é apresentada como uma jovem vulnerável e tímida, que se torna a vítima do comportamento perturbador de Benny. Sua inocência contrasta com a frieza de Benny, tornando seu destino ainda mais trágico. A interação entre os dois personagens revela a dificuldade em estabelecer conexões genuínas em um mundo dominado pela superficialidade.

Os pais de Benny são figuras importantes na narrativa, representando a apatia da sociedade contemporânea. O pai (Ulrich Muhe) é um empresário ocupado que parece mais interessado em seu trabalho do que na vida emocional do filho. A mãe (Angela Winkler) é igualmente distante, tratando os problemas familiares com uma indiferença que beira o absurdo. Essa dinâmica familiar contribui para o isolamento emocional de Benny e destaca a crítica social presente no filme.

A direção de Michael Haneke é meticulosa e provocativa. Ele utiliza longos planos estáticos e uma abordagem minimalista para criar uma atmosfera de desconforto. A ausência de trilha sonora durante muitas cenas intensifica a sensação de realismo e permite que o espectador sinta o peso das ações dos personagens sem distrações emocionais.

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A cinematografia é marcada por uma paleta de cores frias e composições cuidadosamente planejadas. Haneke frequentemente utiliza closes para capturar as expressões faciais dos personagens, revelando suas emoções contidas e a tensão subjacente nas interações. A escolha de ângulos e iluminação contribui para criar um ambiente claustrofóbico que reflete o estado mental de Benny.


Um dos temas mais inquietantes do filme (e que o deixou famoso) é a sua relação entre violência e mídia. A obsessão de Benny por vídeos violentos sugere uma normalização da brutalidade na sociedade contemporânea. Haneke questiona até que ponto as imagens podem influenciar o comportamento humano e como a exposição constante à violência pode dessensibilizar os indivíduos.

A apatia dos pais de Benny serve como um microcosmo da indiferença social mais ampla. O filme sugere que a desconexão emocional não se limita apenas à família, mas permeia toda a sociedade, levando à desumanização das relações interpessoais. Essa crítica se torna ainda mais evidente quando os pais reagem ao crime cometido por seu filho com uma frieza alarmante. Agora pergunto, o garoto seria normal se tivesse carinho dos pais, ou independente disso, ele se tornaria uma pessoa fria e violenta?


BENNY'S VIDEO foi bem recebido pela crítica e é frequentemente elogiado por sua abordagem ousada e provocativa da violência juvenil. O filme foi indicado ao Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro em 1993, solidificando sua posição como uma obra significativa no cinema europeu. No entanto, sua natureza desafiadora pode afastar alguns espectadores, que podem achar difícil lidar com os temas sombrios apresentados.

É uma obra prima provocativa que desafia o espectador a confrontar questões complexas sobre violência, apatia e desconexão emocional na era moderna. Através da narrativa perturbadora de Benny, Michael Haneke oferece uma crítica incisiva à forma como a sociedade lida com a violência e as relações humanas. Com sua direção meticulosa e estética fria, o filme permanece relevante e impactante, convidando à reflexão sobre as consequências das ações humanas em um mundo saturado por imagens violentas.

Se você que está lendo está resenha e curte filmes mais depressivos, violentos, realistas e que faça refletir, recomendo conhecer mais as obras do diretor Michael Haneke, e já aproveitando, vou falar mais dele. É um renomado diretor e roteirista austríaco, nascido na Alemanha, em 23 de março de 1942. No geral seus filmes tem as características já citadas, além de ser, provocador e muitas vezes perturbador, que explora as falhas e os problemas da sociedade moderna, frequentemente levantando questões sociais e morais incômodas.


Haneke não foge de retratar a violência, a frieza e a disfuncionalidade das relações humanas de forma direta e, por vezes, desconcertante. Ele evita o sentimentalismo e a romantização. Seus filmes frequentemente desafiam as convenções narrativas e as expectativas do público, forçando o espectador a confrontar temas difíceis e a questionar suas próprias percepções. Se querem final feliz, sugiro assistir filmes da Disney. Particularmente, por eu gostar também de filmes depressivos, com final perturbador e depressivo, gosto bastante de suas obras. Fazendo um paralelo, por isso achei o jogo "The Last of Us 2", foda pra caralho!!!!! Foda-se o mimimi dos sensíveis!!! Voltando, muitas vezes tece críticas contundentes à burguesia, à alienação, à violência midiática e à falta de empatia na sociedade contemporânea.

Seus filmes são caracterizados por planos longos, poucos cortes, diálogos concisos e uma trilha sonora que incomoda causando desconforto, o que contribui para a sensação de frieza e observação distante. Alias, quando tem trilha sonora, pois as vezes o silêncio incomoda também.


O diretor raramente oferece respostas fáceis, deixando muitas vezes as motivações e as consequências de seus personagens em aberto para a interpretação do público, com isso seus filmes causam bastante discussões em fóruns pelo mundo.

Ao longo de sua carreira, Michael Haneke dirigiu diversos filmes aclamados pela crítica e que receberam inúmeros prêmios internacionais. Alguns de seus trabalhos mais notáveis incluem:

"O Sétimo Continente (The Seventh Continent)" (1989): Um retrato frio e angustiante da decisão de uma família de classe média de abandonar suas vidas. Inspirado num fato que Haneke leu numa matéria de um jornal. 

"Violência Gratuita (Funny Games)" (1997 e 2007 - refilmagem americana): Um filme perturbador sobre dois jovens que aterrorizam uma família em sua casa de férias, questionando a representação da violência no cinema. A refilmagem americana também foi dirigido e roteirizado por Haneke, contando com Tim Roth e Naomi Watts.

"A Professora de Piano (La Pianiste)" (2001): Um drama psicológico intenso sobre a repressão sexual e a autodestruição de uma professora de piano que começa uma relação sadomasoquista com seu aluno.

"Caché" (2005): Um suspense psicológico que explora a culpa colonial e o passado reprimido através de fitas de vídeo anônimas enviadas a um casal. Haneke recebeu o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes por este filme.

"A Fita Branca (The White Ribbon)" (2009): Uma alegoria sobre as raízes do totalitarismo ambientada em uma aldeia alemã antes da Primeira Guerra Mundial. Este filme conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

"Amor (Amour)" (2012): Um drama tocante e realista sobre um casal de idosos lidando com as dificuldades da velhice e da doença. O filme recebeu a Palma de Ouro em Cannes, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e diversos outros prêmios. É seu filme mais bem avaliado no Rotten Tomatoes (94) e no Metacritic (93)

"Happy End" (2017): Um retrato cáustico de uma família burguesa disfuncional em Calais, na França, abordando temas como a crise de refugiados e a alienação.


Haneke é considerado um dos cineastas mais importantes e influentes da atualidade. Sua obra, apesar de muitas vezes controversa e desconfortável, é admirada por sua inteligência, rigor formal e pela profundidade com que explora a condição humana e os males da sociedade contemporânea. 

Em resumo, Michael Haneke é um cineasta que não busca agradar, mas sim provocar a reflexão e o debate através de filmes que confrontam o espectador com a realidade muitas vezes sombria e complexa do mundo em que vivemos.

Para finalizar, falando um pouco dos atores, Arno Frisch fez mais alguns filmes mas longe da repercussão que foi BENNY'S VIDEO, que aliás, foi seu primeiro. Angela Winkler é uma famosa atriz alemã, está em "Suspiria" de 2018, uma especie de remake do filme de mesmo nome do Dario Argento de 1977. E Ulrich Muhe, premiado ator alemão que também trabalhou no "Funny Games". Faleceu em 2007.

Fico por aqui, lembrando mais uma vez que BENNY'S VIDEO não tem nada de FILMELIXO, está aqui devido as "cotas" de alguns filmes bons que posto. Quer outro filme top que postei? Clique aqui.

Trailer


Benny's Video
Áustria
1992 - 110 minutos

Direção:
Michael Haneke

Elenco:
Arno Frisch (Benny)
Angela Winkler (Anna)
Ulrish Muhe (Georg)
Ingrid Stassner (Madchen)
Stephanie Brehme (Eva)
Stefan Polasek (Ricci)

Download (versão legendada)

Do básico ao avançado Adobe Premiere

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17 maio 2025

Taeter City

A cidade dos canibais!


Você vai precisar preparar seu estômago (quem acompanha o FILMELIXO já deve estar calejado), porque TAETER CITY não está aqui pra te agradar, está aqui para "esmagar os miolos" com motosserra, ironia e um senso estético que parece ter sido parido por um cruzamento incestuoso entre "Mad Max", "Evil Dead" e um clipe underground qualquer de metal industrial.

Dirigido por Giulio De Santi, essa pérola podre do cinema trash italiano é o equivalente cinematográfico a uma rave cyberpunk dentro de um matadouro, só que o gado somos nós, a humanidade decadente. A trama gira em torno de uma cidade distópica onde o governo usa ondas de rádio para detectar tendências criminosas antes que o crime aconteça. Lembrou de algo? "Minority Report" é você?  O castigo? Ser moído e processado em carne para alimentar a população. Sim, você leu certo: "fast-food de bandidos". Por isso que o filme tem o subtitulo de "City of Cannibals".


Vou explicar novamente de uma forma mais suave, TAETER CITY se passa em um futuro distópico onde a violência é não apenas comum, mas celebrada. O governo, em um esforço para controlar a criminalidade, transforma execuções públicas em um espetáculo de entretenimento. Os cidadãos são incentivados a assistir a essas execuções ao vivo, e a cultura do "taeter" se espalha como uma forma de entretenimento popular. O filme começa com uma introdução que estabelece esse cenário sombrio, mostrando como a sociedade se deteriorou. 


E se isso já não fosse uma premissa absurda o suficiente, a execução do filme é um espetáculo grotesco de efeitos práticos, exagero estilístico e atuações que fazem novelas mexicanas parecerem Shakespeare. Os personagens são caricaturas ambulantes: agentes cibernéticos com voz robótica, vilões que mais parecem saídos de um show da GWAR, e um narrador que cospe exposição como se estivesse apresentando um comercial de energético feito por um serial killer.

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Mas calma, tem mais: a trilha sonora é uma paulada sonora de synths industriais, que gritam no seu ouvido como se você estivesse numa boate infestada de demônios em um porão de Berlim. É brega? Sim. Funciona? É obvio que sim!


Visualmente, o filme é um caos proposital: saturações neon, filtros digitais agressivos, câmeras tremidas e um uso desenfreado de CGI que parece ter sido feito por um adolescente furioso com o mundo. Mas ao invés de ser um defeito, isso vira identidade. É como assistir um jogo de videogame lançado em 1999 por um estúdio do leste europeu... enquanto você está em um surto psicótico causado por drogas pesadas.


E não dá pra ignorar o humor, se é que dá pra chamar de humor. Aqui se tem um sarcasmo cruel, daqueles que cutucam a ferida até sangrar e depois riam disso. O narrador, por exemplo, parece uma versão insana de um apresentador de telejornal distópico que cheirou uma linha de cinismo antes de entrar no ar. Ele é parte stand-up sociopata, parte tutorial de massacre patrocinado pelo governo.

O sistema da cidade é uma paródia escancarada da vigilância extrema: drones, escaneamento mental, punição imediata, e nenhuma chance de redenção. Você piscou com raiva? Já era: tá virando nugget de carne humana na linha de produção. É como se Orwell tivesse escrito "1984" depois de ser expulso de uma rave cyberpunk por excesso de violência.


E tem algo de profundamente europeu no DNA do filme. Não só pelo sotaque carregado dos atores ou pela estética pós-apocalíptica suja, mas por uma sensação de desesperança cultural, de crítica ao consumo, à indústria alimentar e principalmente ao Estado opressor, tudo com um molho de vísceras e barulho eletrônico.

A direção ficou a cargo de Giulio de Santi um nome sagrado nos becos escuros do cinema extremo europeu. Diretor, roteirista, editor, e muitas vezes também o cara que segura a câmera enquanto tudo explode em sangue, ele é o cérebro por trás da Necrostorm, produtora italiana especializada em filmes trash ultraviolentos, grotescos e insanos. Sim, isso foi um elogio.


De Santi não faz cinema para o público médio. Ele faz filmes como se estivesse criando um jogo de tortura para os sentidos, misturando influências do cyberpunk, do terror corporal, do gore anos 80 e do anime distorcido, tudo isso com um senso estético que parece ter saído de um pesadelo tecno fetichista.

Seus filmes não pedem desculpas. Eles não têm filtro, censura ou limites de bom gosto. Eles desafiam o espectador e muitas vezes o ofendem, com um desfile de violência gratuita, mutações bizarras, órgãos expostos e diálogos que soam como se tivessem sido traduzidos do italiano para o inglês por um alienígena com déficit de atenção. E, curiosamente, é aí que está a genialidade de De Santi: ele sabe exatamente o que está fazendo. Seu "trash" não é por acidente, é uma escolha estética consciente, quase uma forma de protesto contra o cinema estéril e domesticado.


Outros de seus filmes são: "Hotel Inferno" de 2013, um dos primeiros filmes de terror "em primeira pessoa". Sim, antes de "Hardcore Henry" que é de 2016. Em "Hotel Inferno", você  é o protagonista em uma missão infernal num hotel amaldiçoado.  Eu disse "você", pois lembre-se, o filme é em primeira pessoa. "Adam Chaplin" de 2011, aqui é um festival de porrada e sangue, misturando mangá, filme de ação, horror e um protagonista que parece o Kenshiro do "Hokuto no Ken" com problemas psiquiátricos sérios.

Giulio de Santi é um "visionário do caos". Ele não quer apenas chocar, quer arrancar seu cérebro do crânio e espremê-lo até você rir, chorar ou vomitar. Em um mundo onde o cinema está cada vez mais pasteurizado, ele se mantém como um punk solitário cuspindo sangue na cara do espectador. Seus filmes não são pra todo mundo. Mas quem entra nesse mundo e aceita a bizarrice... raramente sai ileso.


Voltando, TAETER CITY não tem pudor, nem vergonha, nem limites, e é exatamente por isso que é delicioso. É cinema feito com intestino, por quem não tem medo de abraçar o absurdo e mergulhar de cabeça na insanidade audiovisual. É para estômagos fortes, mentes sujas e corações que batem mais forte ao som de carne sendo triturada ao vivo. Um autentico FILMELIXO!

Se você gosta de filmes como Tokyo Gore Police, Full Metal Yakuza ou o bom e velho Toxic Avenger, esse aqui é sua próxima dose de podridão cinematográfica. Se você prefere algo mais "refinado", volte pro seu drama francês e deixe os canibais em paz. Aqui não é o seu lugar

Trailer


Taeter City
Itália
2012 - 73 minutos

Direção:
Giulio de Santi

Elenco:
Monica Muñoz (Razor)
Santiago Ortaez (Shock)
Wilmar Zimosa (Wank)
Giulio de Santi (Trevor Covalsky)
Enrique Sorres (Mutante)
Riccardo Valentini (Caronte)
Sabriel Munoz (El Marrano)
Saveriq Gittari (Bostor)

Download (versão legendada)

Do básico ao avançado Adobe Premiere

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