A cidade dos canibais!
Você vai precisar preparar seu estômago (quem acompanha o FILMELIXO já deve estar calejado), porque TAETER CITY não está aqui pra te agradar, está aqui para "esmagar os miolos" com motosserra, ironia e um senso estético que parece ter sido parido por um cruzamento incestuoso entre "Mad Max", "Evil Dead" e um clipe underground qualquer de metal industrial.
Dirigido por Giulio De Santi, essa pérola podre do cinema trash italiano é o equivalente cinematográfico a uma rave cyberpunk dentro de um matadouro, só que o gado somos nós, a humanidade decadente. A trama gira em torno de uma cidade distópica onde o governo usa ondas de rádio para detectar tendências criminosas antes que o crime aconteça. Lembrou de algo? "Minority Report" é você? O castigo? Ser moído e processado em carne para alimentar a população. Sim, você leu certo: "fast-food de bandidos". Por isso que o filme tem o subtitulo de "City of Cannibals".
Vou explicar novamente de uma forma mais suave, TAETER CITY se passa em um futuro distópico onde a violência é não apenas comum, mas celebrada. O governo, em um esforço para controlar a criminalidade, transforma execuções públicas em um espetáculo de entretenimento. Os cidadãos são incentivados a assistir a essas execuções ao vivo, e a cultura do "taeter" se espalha como uma forma de entretenimento popular. O filme começa com uma introdução que estabelece esse cenário sombrio, mostrando como a sociedade se deteriorou.
E se isso já não fosse uma premissa absurda o suficiente, a execução do filme é um espetáculo grotesco de efeitos práticos, exagero estilístico e atuações que fazem novelas mexicanas parecerem Shakespeare. Os personagens são caricaturas ambulantes: agentes cibernéticos com voz robótica, vilões que mais parecem saídos de um show da GWAR, e um narrador que cospe exposição como se estivesse apresentando um comercial de energético feito por um serial killer.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Pausa para a dica de armazenamento, está precisando de espaço na nuvem?
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mas calma, tem mais: a trilha sonora é uma paulada sonora de synths industriais, que gritam no seu ouvido como se você estivesse numa boate infestada de demônios em um porão de Berlim. É brega? Sim. Funciona? É obvio que sim!
Visualmente, o filme é um caos proposital: saturações neon, filtros digitais agressivos, câmeras tremidas e um uso desenfreado de CGI que parece ter sido feito por um adolescente furioso com o mundo. Mas ao invés de ser um defeito, isso vira identidade. É como assistir um jogo de videogame lançado em 1999 por um estúdio do leste europeu... enquanto você está em um surto psicótico causado por drogas pesadas.
E não dá pra ignorar o humor, se é que dá pra chamar de humor. Aqui se tem um sarcasmo cruel, daqueles que cutucam a ferida até sangrar e depois riam disso. O narrador, por exemplo, parece uma versão insana de um apresentador de telejornal distópico que cheirou uma linha de cinismo antes de entrar no ar. Ele é parte stand-up sociopata, parte tutorial de massacre patrocinado pelo governo.
O sistema da cidade é uma paródia escancarada da vigilância extrema: drones, escaneamento mental, punição imediata, e nenhuma chance de redenção. Você piscou com raiva? Já era: tá virando nugget de carne humana na linha de produção. É como se Orwell tivesse escrito "1984" depois de ser expulso de uma rave cyberpunk por excesso de violência.
E tem algo de profundamente europeu no DNA do filme. Não só pelo sotaque carregado dos atores ou pela estética pós-apocalíptica suja, mas por uma sensação de desesperança cultural, de crítica ao consumo, à indústria alimentar e principalmente ao Estado opressor, tudo com um molho de vísceras e barulho eletrônico.
A direção ficou a cargo de Giulio de Santi um nome sagrado nos becos escuros do cinema extremo europeu. Diretor, roteirista, editor, e muitas vezes também o cara que segura a câmera enquanto tudo explode em sangue, ele é o cérebro por trás da Necrostorm, produtora italiana especializada em filmes trash ultraviolentos, grotescos e insanos. Sim, isso foi um elogio.
De Santi não faz cinema para o público médio. Ele faz filmes como se estivesse criando um jogo de tortura para os sentidos, misturando influências do cyberpunk, do terror corporal, do gore anos 80 e do anime distorcido, tudo isso com um senso estético que parece ter saído de um pesadelo tecno fetichista.
Seus filmes não pedem desculpas. Eles não têm filtro, censura ou limites de bom gosto. Eles desafiam o espectador e muitas vezes o ofendem, com um desfile de violência gratuita, mutações bizarras, órgãos expostos e diálogos que soam como se tivessem sido traduzidos do italiano para o inglês por um alienígena com déficit de atenção. E, curiosamente, é aí que está a genialidade de De Santi: ele sabe exatamente o que está fazendo. Seu "trash" não é por acidente, é uma escolha estética consciente, quase uma forma de protesto contra o cinema estéril e domesticado.
Outros de seus filmes são: "Hotel Inferno" de 2013, um dos primeiros filmes de terror "em primeira pessoa". Sim, antes de "Hardcore Henry" que é de 2016. Em "Hotel Inferno", você é o protagonista em uma missão infernal num hotel amaldiçoado. Eu disse "você", pois lembre-se, o filme é em primeira pessoa. "Adam Chaplin" de 2011, aqui é um festival de porrada e sangue, misturando mangá, filme de ação, horror e um protagonista que parece o Kenshiro do "Hokuto no Ken" com problemas psiquiátricos sérios.
Giulio de Santi é um "visionário do caos". Ele não quer apenas chocar, quer arrancar seu cérebro do crânio e espremê-lo até você rir, chorar ou vomitar. Em um mundo onde o cinema está cada vez mais pasteurizado, ele se mantém como um punk solitário cuspindo sangue na cara do espectador. Seus filmes não são pra todo mundo. Mas quem entra nesse mundo e aceita a bizarrice... raramente sai ileso.
Voltando, TAETER CITY não tem pudor, nem vergonha, nem limites, e é exatamente por isso que é delicioso. É cinema feito com intestino, por quem não tem medo de abraçar o absurdo e mergulhar de cabeça na insanidade audiovisual. É para estômagos fortes, mentes sujas e corações que batem mais forte ao som de carne sendo triturada ao vivo. Um autentico FILMELIXO!
Se você gosta de filmes como Tokyo Gore Police, Full Metal Yakuza ou o bom e velho Toxic Avenger, esse aqui é sua próxima dose de podridão cinematográfica. Se você prefere algo mais "refinado", volte pro seu drama francês e deixe os canibais em paz. Aqui não é o seu lugar
Trailer
Taeter City
Itália
2012 - 73 minutos
Direção:
Giulio de Santi
Elenco:
Monica Muñoz (Razor)
Santiago Ortaez (Shock)
Wilmar Zimosa (Wank)
Giulio de Santi (Trevor Covalsky)
Enrique Sorres (Mutante)
Riccardo Valentini (Caronte)
Sabriel Munoz (El Marrano)
Saveriq Gittari (Bostor)
Download (versão legendada)
VEJA TAMBÉM